
No diálogo e nas orientações aos jogadores do Vitória, fica fácil perceber que o técnico Valdir Bigode conserva o jeitão boleiro que brilhou nos anos 90, com as camisas de Vasco, Atlético/MG e São Paulo, principalmente. Mas são nas ideias que ele deixa claro: o “professor Valdir” é cria da “cancha”.
Em meio a era dos treinadores formados nas salas de aula, o comandante alvianil abre o leque de aprendizado dos tempos de jogador com um objetivo: conquistar o acesso para a Terceirona do Brasileiro.
Acompanhando jogos como parte de seu trabalho e evolução no cargo, Valdir traz críticas ao futebol atual, que na visão dele está cada vez menos jogado e mais estudado.
“Há uma preocupação muito grande em estudar o adversário, e acaba fazendo com que você estude o outro lado e contenha o seu time. Não, vamos jogar! Vamos estudar o adversário, e ir para cima, buscar o melhor espaço”, analisa.

Em conversa com a reportagem de A Tribuna, o técnico do Vitória comentou o trabalho em pouco mais de dois meses à frente do clube e sobre a rotina na nova profissão.
A Tribuna — Qual o grande mérito do Vitória até aqui na Série D?
Valdir Bigode — Um dos principais motivos é que os jogadores estão acreditando tanto em mim quanto na comissão técnica, no trabalho. Eles estão comprando a ideia e as coisas estão acontecendo pra gente na competição.
Dos oito jogos até aqui, gostou mais da atuação em algum?
Eu acho que gostei de todas, até mesmo o jogo em que perdemos para a Caldense, em que criamos várias oportunidades e as perdemos. Independente dos resultados, acho que o time está numa crescente, melhorando a cada dia. Não sei o que vai acontecer contra o Ituano, não vou tentar adivinhar, mas vamos tentar repetir o que a gente vem fazendo e vem dando certo.
A torcida está lotando o estádio e mostrando confiança no acesso. Como aproveitar esse fator?
Apoio e crítica, não tenho como conter, isso é do torcedor. Citando o exemplo do Brasiliense, que foi uma equipe muito forte — como vai ser o Ituano —, nós empatamos o jogo (no Salvador Costa). Não tivemos tantas oportunidades, talvez uma ou duas, e eles também. No entanto, fora de casa, jogamos muito melhor. Então, o torcedor escolhe o que ele quer. Ele quer vaiar, problema nenhuma. Quer apoiar, vai ser muito melhor para nós e para eles também.
O passado como jogador ajuda a ter o respeito dos jogadores no vestiário?
Não tenha dúvida. Ajuda e ajuda muito quando os jogadores olham para o treinador e veem uma figura que já passou por tudo aquilo e muito mais, existe uma credibilidade sim, que é muito positiva no trabalho.
Como é a rotina do treinador Valdir Bigode fora das quatro linhas?
Tem tempo para tudo. De manhã não tem jogo, então vou pescar, vou ao shopping, leio alguma coisa, vejo algum programa. Ou durmo até mais tarde. Outro dia mesmo eu assisti quatro jogos em um dia. Tinham dois jogos que eu queria ver e os outros dois foram na sequência, já estava ali mesmo e assisti aos jogos. E às vezes nem sempre são de grandes clubes, até para ver o que está se passando. Mas tem tempo para tudo, de manhã, de tarde, de noite, de madrugada. Eu não jogo mais, então às vezes eu posso ficar até duas da manhã, até mesmo pescando nesse horário. Eu gosto, alivia a mente, tira um pouco da tensão.
Onde mais gosta de pescar?
Pesco perto de casa (em Jardim Camburi) mesmo, tem água para tudo quanto é lado né (risos). Mas não pego nada, é só para passar o tempo mesmo, olhar a isca e pensar também o que a gente vai fazer nos próximos treinos e próximos jogos.
Como está vendo o futebol atualmente?
Falando mais do Brasil, algumas partidas sim me agradam muito, mas algumas não. Há uma preocupação muito grande em estudar o adversário, e acaba fazendo com que você estude o outro lado e contenha o seu time. Não, vamos jogar! Vamos estudar o adversário, e ir para cima, buscar o melhor espaço. Acho que o futebol que o torcedor quer comprar é esse. A gente está procurando, de uma forma ou de outra, fazer isso, dentro de casa e fora também. Estamos conseguindo e espero que continuem dessa forma.

Quais times mais te chamam a atenção atualmente?
O time que me chama muito a atenção, não só dentro de campo, mas fora, é o Flamengo, devido a sua condição financeira hoje, a mudança de gestão dos últimos anos para cá. O próprio Palmeiras, não tem como não citar, uma equipe que também há alguns anos vem se organizando dentro e fora de campo, numa crescente muito boa. E também assisto aos do meu time de coração, o Vasco, que não se encontra num bom momento, mas, de qualquer forma, a gente tem que observar também.
Falando em Vasco, ficou alguma mágoa após a saída?
Foi bem tranquilo, um funcionário que foi demitido, faz parte. Não tem que ter mágoas, eu joguei no Vasco em uma ocasião e saí, joguei em uma segunda ocasião e saí de novo, trabalhei como auxiliar quatro anos e saí de novo. Então não tem problema, quem sabe um dia eu vou voltar, tenho certeza que as portas sempre estarão abertas.
Vai assistir ao jogo de hoje, contra o Rio Branco?
Vou conversar com o pessoal da comissão para ver se tem a possibilidade.
A presença do torcedor do Vasco e de outros clubes tem ajudado?
Com certeza! Grande parte da torcida capixaba é vascaína, gosta de mim e do que eu apresentei como atleta. Tem esse carinho e eles me passam isso no dia a dia. Na rua, em qualquer lugar que eu esteja, falam que vão ver o jogo, que vão comparecer. E o próprio momento do Vitória também ajuda. O torcedor sabe que o trabalho está sendo desenvolvido, que as ideias estão sendo compradas, são boas até o momento e eles também estão comprando a ideia.
Como é ter a presença do Geovani, um amigo dos tempos de jogador? Como era o convívio nessa época?
Nos tempos de jogador era mais difícil porque ele era um cara mais velho, eu era menino, bem mais novo. A gente não tinha essa amizade de estar junto, mas tinha um carinho e respeito. E a minha vinda para cá, o Geovani conversou comigo, me mostrou algumas situações que até então eu não conhecia e acabou que estou aqui. E no dia a dia tem o suporte, todo dia passa mensagem, liga para ver o que a gente precisa e necessita. Tem sido bem interessante porque com esse suporte dá para trabalhar mais tranquilo.